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sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Crer ou não crer



 Crer ou não crer
por Lúcia Helena de Oliveira
Os pesquisadores querem retomar os estudos sobre a mortalha que teria recoberto o corpo de Jesus Cristo. Há dez anos, exames acusaram o lençol de ter sido criado na era medieval, por volta de 1300. Se isso for confirmado, estaremos diante da fraude mais enigmática e mais bem elaborada da História.

Desde o dia 18 de abril, cerca de 3 milhões de pessoas formaram filas para entrar na catedral de Turim, na Itália. A cidade, famosa por sua indústria automobilística, vive o clima de um agitado centro turístico até o dia 14 deste mês. Seus visitantes trazem na bagagem uma senha, muitas vezes obtida pela Internet. É ela que dá direito a ver de perto a maior relíquia do catolicismo, exposta aos olhos dos fiéis durante oito semanas depois de vinte anos de reclusão em uma caixa metálica. Lá está o pedaço de pano que é chamado de Santo Sudário.
A olho nu, o que os peregrinos enxergam no centro da catedral, em uma redoma high-tech, é uma fazenda surrada, estreita e comprida, com 1,10 metro de largura por 4,36 metros de altura. Entre manchas envelhecidas de sangue, de água e de tecido queimado, percebe-se com algum esforço a imagem de um homem barbudo e despido. Para os fiéis, não há dúvida: é Jesus Cristo, que, segundo a Bíblia, foi enterrado naquele lençol. A mortalha ficou para trás, na tumba, quando ele “subiu aos céus”. Ela simboliza a sua paixão e a sua ressurreição.
Entre os milhões de turistas, porém, 400 se encontram ali a trabalho. Entre os dias 5 e 7 deste mês, eles participam do III Congresso Internacional de Sindonologia (sindone, em latim, significa sudário). São cientistas e estudiosos de diversas áreas dispostos a reabrir a polêmica em torno da autenticidade da relíquia.
Os séculos entre a fé e a farsa
Uma carta de 1389 enviada pelo bispo francês Pierre d’Arcis ao papa Urbano VI é um dos primeiros documentos que se referem ao sudário. E já fala de fraude. “As pessoas insistem que se trata do sudário. Mas sei que o linho foi pintado a pena”, escreveu o bispo. No entanto, para o químico Alan Adler, professor da Universidade Estadual do Oeste de Connecticut, nos Estados Unidos, é impossível que um pintor tenha conseguido tal proeza. “O tecido tem várias camadas de fibras e apenas a mais superficial delas apresenta outra tonalidade, criando o desenho”, conta à SUPER o cientista, que é ateu. “Mesmo o mais habilidoso dos artistas, com traços levíssimos, tingiria duas camadas, no mínimo.”
A nitidez no negativo
De qualquer forma, o papa deu crédito à carta do bispo d’Arcis. “Naquela época, surgiam relíquias falsas em todo canto”, explica o historiador maranhense José Félix Assumpção, que cursa pós-graduação na Universidade de Cambridge, na Inglaterra. “O curioso é o sudário de Turim ter adquirido tanta força até nos dias de hoje.” Curioso, talvez, mas compreensível. Há 100 anos, em 1898, o fotógrafo profissional italiano Secondo Pia, ao retratar a relíquia, levou um susto: no negativo, surgia a imagem nítida do corpo que, no pano, aparece embaçado. Foi esse efeito do negativo que fascinou tanto cientistas céticos quanto os fiéis.
Em 1978, o Vaticano convidou 24 pesquisadores para examinar o lençol. Só a Nasa, a agência especial americana, enviou 72 caixas de aparelhos a Turim. “Os mais diversos tipos de análise foram favoráveis à autenticidade da mortalha”, lembra o advogado paulista Paulino Brancatto Júnior, que participou da jornada científica para realizar um documentário. A Igreja, então, submeteu seu tesouro a mais uma prova, a do carbono 14. Só que seu resultado foi abalador. O carbono 14 não deixava dúvidas: o linho foi tecido entre 1260 e 1390 (veja à direita como funciona o teste).
Chama da dúvida
O calor pode alterar a medição da idade do tecido.
Em 1997, o sudário salvou-se de um incêndio. Mas em 1532 foi atingido por labaredas que lhe deixaram marcas. Em 1503, foi fervido em óleo pois, se a imagem não saísse, ela seria “santa”. Para físicos da Universidade Harvard, nos Estados Unidos, o calor afetaria a precisão do teste do carbono 14. Eles usaram a técnica em panos antigos antes e depois de chamuscá-los e notaram diferenças de até 600 anos nos resultados.
Eis o juízo final?
Entenda a famosa – e polêmica – prova do carbono 14.

A quantidade de átomos radioativos de carbono impregnada em um objeto de origem orgânica pode denunciar a sua idade. Por isso, há dez anos, cientistas suíços, ingleses e americanos de equipes distintas resolveram submeter o sudário a essa prova.

Esta foto amplia a trama do sudário. Para os defensores da sua autenticidade, uma crosta invisível de micróbios sobre os fios teria atrapalhado o exame

Direto do céu
Os átomos de carbono 14, que são radioativos, surgem na atmosfera da Terra quando os raios cósmicos reagem com o nitrogênio no ar.

Aqui na Terra
Essa forma radioativa do carbono, que nasce no ar, acaba absorvida por plantas como o linho, que depois será usado para fazer tecido.

Para a eternidade
A cada 5 700 anos, a quantidade de carbono 14 no tecido cai pela metade. Sabendo disso, os cientistas determinam a idade do tecido.

Juventude atômica
Para isso, comparam a quantidade de carbono 14 encontrada na peça antiga com a quantidade existente num tecido recente.
As manchas de sangue parecem ser legítimas
Em 1978, o teste do carbono 14 foi realizado por três equipes – a do Instituto Politécnico de Zurique, na Suíça, a da Universidade Oxford, na Inglaterra, e a da Universidade do Arizona. Seus representantes sustentam a conclusão. “Sei que o pano não tem a mais remota chance de ser da época de Cristo”, jura o físico inglês Toddy Hall, da Oxford. “Ou alguém o produziu, querendo que acreditássemos que era o sudário verdadeiro, ou ele foi usado num funeral da Idade Média e tudo não passa de uma grande coincidência.”
Lição de anatomia
Haja coincidência: achar, em plena Idade Média, quando as crucificações já eram coisa do passado, a mortalha de um homem que foi flagelado e crucificado como Cristo. Agora, se for uma fraude, é uma fraude genial. O autor calculou tudo. As chagas das mãos estão na altura dos pulsos. Ali, entre oito ossos, estaria o ponto capaz de, trespassado por um cravo, sustentar o peso do corpo pendurado na cruz. “Se os cravos estivessem na palma das mãos, como nas imagens da crucificação, a carne se rasgaria”, diz Brancatto Júnior. É um detalhe anatômico que, aparentemente, ninguém conhecia no século XIII.
O químico americano Alan Adler provou que o tecido contém moléculas que o organismo despeja quando passa várias horas em estresse extremo. Como em uma sessão de tortura ou, mais exatamente, em uma crucificação. Sem contar substâncias secretadas nos coágulos das feridas que são invisíveis e só foram descobertas neste século. “Sem saber da sua existência, ninguém as teria colocado ali de propósito”, acredita Adler.
Encontram-se ainda no sudário resquícios do líquido pleural, que enche os pulmões enquanto eles agonizam. Na Bíblia, João Evangelista descreve que jorrou água do peito do Cristo quando, antes de ser retirado da cruz, a lança de um soldado romano atravessou-lhe o tórax. Para os médicos legistas, a “água” era líquido pleural. E, se alguém forjou o sudário de Turim, esse alguém pensou até nisso.
Corpo torturado
O que se deduz sobre o homem retratado no lençol.
Ele tinha físico de atleta, 1,83 metro de altura e 81 quilos. A coroa de espinhos tem forma de capacete. Nas costas, vêem-se as marcas dos 39 golpes de chicote que os soldados tinham de aplicar, conforme a lei romana. Os olhos estão cobertos por moedas do Império Romano. Deviam estar arregalados, em conseqüência da morte por asfixia – na cruz, o músculo diafragma no tórax é esticado pelo peso do corpo, não deixando os pulmões se encher de ar.
O enigma vai atravessar o milênio
O legista suíço Max Frei, especialista em pó, achou o pólen de 56 plantas no linho, 47 delas típicas da Palestina. Por evidências como essa é que muitos querem um novo exame de carbono 14, alegando que o primeiro resultado pode ter sido desviado até por uma espécie de filme transparente ao redor das fibras, composto de resíduos de bactérias. Esse filme é que poderia ter se formado na Idade Média.
Mas se o pano é de fato medieval, isso não elimina o enigma da imagem gravada nele, formada não pelo sangue, mas por “queimaduras” superficiais nas fibras do linho. Uma hipótese é a de que alguém teria usado um ácido para pintar a figura. Em altas temperaturas, a substância queimaria as fibras, escurecendo-as. No entanto, segundo a Nasa, é impossível que alguém tenha feito tudo isso a pinceladas de ácido ou de qualquer outra coisa.
No final do congresso, este mês, os cientistas decidirão quais novos testes devem ser aplicados à relíquia católica. Mas eles não serão feitos agora. O sudário ficará em sua redoma especial, criada sob medida pela empresa americana Praxair (veja infográfico ao lado), mas longe do público e dos pesquisadores. Só no ano 2000 os testes serão realizados. Então, com ou sem mistérios remanescentes, o sudário será exposto novamente. À fé e à ciência.
Para saber mais
NA INTERNET
Sindone – o site oficial da exposição de Turim http://sindone.torino.chiesacattolica.it
Estampa misteriosa
Como a imagem poderia ser forjada no tecido.
Uma teoria diz que um ácido teria favorecido o envelhecimento do pano em certos pontos, formando a figura. Mas, para isso, o pano deveria ter sido submetido ao calor e à radiação luminosa. Por exemplo, ficando alguns meses intocado e exposto ao sol.

Outra hipótese é de que o envelhecimento do pano nos pontos da imagem tenha sido provocado por uma espécie de carimbo de bactérias da pele. O pano teria tocado um corpo e, então, as bactérias teriam se multiplicado na trama, graças ao calor e às substâncias do suor.

A fotografia computadorizada acima mostra o homem do sudário em relevo. Esse resultado só aparece quando a imagem é fixada com a ajuda de calor, como as duas hipóteses admitem. Mas só um gênio, um gênio milagrosamente genial, teria calculado tudo isso na Idade Média.
Por trás das manchas no pano
As marcas são associadas à paixão de Cristo
A planta dos pés e o sangue que jorrou de suas feridas
Remendos costurados para cobrir partes queimadas do tecido após um incêndio em 1532
Buracos provocados por outro incêndio, anterior ao de 1532
As pernas
Um fio de sangue escorrendo pelas costas originário de um ferimento na altura do peito, como se uma lança tivesse atravessado o crucificado
As costas
Vários pontos de sangue nas costas. Eles lembram as feridas provocadas pelo flagrum, o pequeno chicote dos romanos que deu origem à palavra flagelo.

A peça tinha chumbos nas pontas de três tiras de couro que cravavam a carne do torturado.

A parte detrás da cabeça
A face
O sangue escorrendo dos ferimentos na cabeça
O sangue da ferida no lado direito do peito
O sangue escorrendo dos pulsos. As manchas sanguíneas mais fortes acusam onde provavelmente foram fincados os cravos nos pulsos
As mãos
As marcas da água usada para apagar o incêndio de 1532
A parte da frente das pernas
Os joelhos
Os pés
A amostra do tecido retirada para exames em 1988
Uma atmosfera muito especial
Um novo esquema para preservar a relíquia católica.
1. Ar modificado

Dentro da redoma onde está exposto o pano existe um coquetel de gases. Seu principal ingrediente é o argônio. Por ser inerte, ele não reage com o tecido nem pega fogo. Todos os gases, porém, saem de tanques especiais e fazem duas escalas até alcançar a caixa de vidro.

2. Pano ligeiramente úmido
No meio do caminho, os gases recebem uma dose de vapor no umidificador. Se o tecido ficasse em um local completamente seco, em mais alguns séculos a ligação entre as suas moléculas iria se quebrar. E tudo viraria fiapo.

3. Do jeito certo
Antes de seguir para a redoma, a mistura passa por uma estação de controle. Ali, sensores medem a umidade, a temperatura, a pressão e a pitada de oxigênio necessária para inibir o crescimento de bactérias anaeróbicas, que dispensam a respiração para viver. Elas ajudariam a destruir o pano.

4. Vigilância informática
As informações dos sensores vão bater em um computador. Se algo estiver a mais ou a menos na atmosfera especialmente criada, a máquina ordenará que os tanques façam as devidas correções.

5. A escala principal
Com tudo acertado, o coquetel à base de argônio entra na redoma instalada na intersecção da nave em forma de cruz da Catedral de Turim, na Itália.

6. Total segurança
De hora em hora, uma pequena amostra dos gases vai para análise. De novo, a pressão, a temperatura, a umidade e a quantidade de oxigênio são medidas. Os dados são enviados ao computador central, capaz de realizar eventuais correções.

Para saber mais

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