Se vc busca tudo sobre ateísmo visite https://sites.google.com/site/vizenteoateu/

Se vc busca tudo sobre ateísmo visite https://sites.google.com/site/vizenteoateu/

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Deuses


Para o homem primitivo, havia uma infinidade de deuses: um deus para cada espécie animal e um para cada fenômeno da natureza, bem como cada astro que brilhava no céu seria um deus.

As coisas mudaram e até os deuses, mas deus não saiu de todo da cabeça do homem. Antigos persas chegaram a uma conclusão mais redutiva dos deuses. Deveria haver somente dois: Masda, o deus do bem, que teria criado tudo de bom, e Arimã, o deus do mal, que teria feito tudo que é ruim. E as mudanças não pararam por aí. Posto que circundados de povos adoradores do deus boi (baal) e uma multidão de outros, os hebreus deixaram aquela multidão divina e passaram a adorar um único deus, Yavé, criador de tudo, do bem e do mal. Hoje, quase não se vêem outros deuses. Yavé dominou o espaço divino tão amplamente, que para a maior parte do mundo ele ate perdeu o antigo nome, sendo conhecido simplesmente como “Deus”, por eles não acreditarem que existam os outros.

Todavia, até podemos também dizer: “Deus não é mais o mesmo”:

Está na hora de vocês levarem a sério e irem a um museu de Historia Natural e descobrir que o Theosaurus: nome dado a um fóssil-Deus encontrado em Jerusalém, descendente direto do Allahsaurus foi morto pela razão. Aposto que vocês devem estar se perguntando onde fica o cemitério dos deuses mortos? Este cemitério não existe por que não existem deuses e mesmo se existissem seriam imortais segundo vocês que os criam! Houve uma época em que Júpiter era o rei dos deuses e qualquer homem que duvidasse de seu poder era ipso facto um bárbaro ou um quadrúpede. Haverá hoje um único homem no mundo que adore Júpiter? E que fim levo Huitzilopochtli? Em um só ano e isto foi há apenas cerca de quinhentos anos, 50 mil rapazes e moças foram mortos em sacrifício a ele. Hoje, se alguém se lembra dele, só pode ser um selvagem errante perdido nos cafundós da floresta mexicana. Falando em Huitzilopochtli, logo vem à memória seu irmão Tezcatilpoca. Tezcatilpoca era quase tão poderoso: devorava 25mil virgens por ano. Levem-me a seu túmulo: prometo chorar e depositar uma couronne des perles. Mas quem sabe onde fica? (...) Arianrod, Nuada, Argetlam, Morrigu, Tagd, Govannon, Goibniu, Gunfled, Odim, Dagda, Ogma, Ogurvan, Marzin, Dea Dia, Marte, Iuno Lucina, Diana de Éfeso, Saturno, Robigus, Furrina, Plutão, Cronos, Vesta, Engurra, Zer-panitu, Belus, Merodach, Ubililu, Elum, U-dimmer-an-kia, Marduk, U-sab-sib, Nin, U-Mersi, Perséfone, Tammuz, Istar, Vênus, Lagas , Belis, Nirig, Nusku, Nebo, Aa, En-Mersi, Sin, Assur, Apsu, Beltu, Elali, Kusky-banda, Mami, Nin-azu, Zaraqu, Qarradu, Zagaga, Ueras. Peça ao seu padre que lhe empreste um bom livro sobre religião comparada: você encontrará todos eles devidamente listados. Todos foram deuses da mais alta dignidade – deuses de povos civilizados –, adorados e venerados por milhões. Todos eram onipotentes, oniscientes e imortais. E todos estão mortos.” (Henry Louis Mencken).

A forma como encaramos Deus é, felizmente, mutável. Ishtar, Afrodite, Mitra, Wotan e vários outros panteões foram esquecidos.

Portanto, uma aldeia ter-se-á limitado a dizer: Há uma potência que troveja, que atira neve sobre nós, que faz morrer nossos filhos: acalmemo-la; mas como? Vemos que acalmamos com pequenos presentes a cólera das pessoas irritadas: façamos pois pequenos presentes a essa potência. É também preciso dar-lhe um nome. O primeiro que se oferece é o de Chefe, Dono, Senhor; essa potência é pois chamada Senhor. É provavelmente a razão pela qual os primeiros egípcios chamaram ao seu deus Knef; os sírios, Adonai; os povos vizinhos, Baal ou Bel, ou Melch, ou Moloch; os citas, Papeu: palavras que significam Senhor, Mestre.

É um recurso bastante utilizado por eles, religiosos, para infundir o medo nas pessoas, ou convencê-las da necessidade de uma crença em seres imaginários, de que precisam adorar um deus ou um jóquei de jegue para que não sejam punidos por pensar, raciocinar, blasfemar, duvidar, criticar, etc.
No vasto cemitério chamado passado, está a maior parte das religiões do homem, e lá, também, estão também quase todos os seus deuses. Os templos sagrados da Índia já são ruínas há longo tempo atrás. Sobre colunas e cornijas; sobre as paredes desenhadas e pintadas, vicejam e se espalham plantas trepadeiras. Brama, o ouro, com quatro cabeças e quatro braços. Vishnu, a sombra, o que castiga os maus, com seus três olhos, seu crescente, com seu colar de crânios; Shiva, o destruidor, vermelho com mar de sangue; Kali, a deusa; Draupadi, com braços brancos; e Krishna, o Cristo, todos se foram e deixaram o trono dos céus abandonados. Ao longo da beira do sagrado Nilo, Ísis não mais vaga chorando, procurando o defunto Osíris. A sombra da carranca de Tifon não cai mais nas ondas. O sol nasce como outrora, e seus raios dourados ainda atingem os lábios de Menon, mas Menon está tão mudo quanto a Esfinge. As múmias empoeiradas ainda esperam pela ressurreição prometida pelos sacerdotes, e as velhas crenças registradas em curiosas pedras esculpidas, dormem no mistério de uma língua morta e perdida. Odin, o autor da vida e da alma, Vili e Ye, e o poderoso gigante Ymir, debandaram há muito tempo das geladas paisagens do norte; e Tor, com luvas de ferro e sua clava flamejante, não mais esmaga montanhas. Os antigos círculos e cromeleques dos druidas estão quebrados; caídos nos ermos das montanhas e cobertos com musgos de séculos. Os fogos divinos dos astecas e da Pérsia se extinguiram nas cinzas do passado, e não há mais ninguém para reacendê-lo ou alimentar as chamas sagradas. A harpa de Orfeu está silenciosa; o caneco derramado de Baco foi deixado de lado; Vênus jaz morta, de pedra e seu seio branco não mais pulsa de amor. As correntezas ainda passam, mas não há mais naiads para tomar banho; as árvores ainda balançam, mas nas clareiras da floresta nenhuma driad dança. Os deuses fugiram do monte Olimpo. Nem mesmo a mais bela das mulheres pode fisgá-los de volta. Desaparecidos para sempre estão os trovões do Sinai; perdidas estão as vozes dos profetas, e a terra, antes fluindo com leite e mel é agora um deserto. Um por um os mitos se desvaneceram com as nuvens: um por um, os fantasmas desapareceram, e um por um, fatos, realidade e verdades tomaram seu lugar. O sobrenatural praticamente sumiu, mas o natural persiste. Os deuses voaram, mas o homem está aqui.

Nações, como indivíduos, têm seus períodos de juventude, de maturidade e declínio. Religiões também. O mesmo destino inexorável aguarda todas elas. Os deuses criaram, mas as nações devem perecer com seus criadores. Elas foram criadas por homens, mas como homens, elas devem desaparecer. As divindades de uma era são a matéria prima dos próximos. A religião dos nossos dias e do nosso país não está mais isenta de gozação daqueles que virão no futuro do que os outros. Quando a Índia resplandecia, Brama triunfava no trono do mundo. Quando o cetro passou para o Egito, Ísis e Osíris receberam as homenagens da humanidade. A Grécia, com seu valor, tornou-se império e Zeus se tornou a autoridade. O mundo tremeu com a ameaça dos intrépidos filhos de Roma, e Jove agarrou com as mãos os raios do céu. Roma caiu, os cristãos, no seu território, com a espada vermelha da guerra, dominaram as nações do mundo, e agora Cristo senta sobre o velho trono. Quem será seu sucessor?

O Artigo abaixo é tradução de um trabalho de Robert Green Ingersoll, realizada por Afonso M. C. Amorim que, gentilmente, ofereceu como colaboração à MPHP.

Clique aqui para ler uma nota importante sobre este texto

A publicação em português está formalmente autorizada pela Internet Infidels. Inc., que inclusive disponibilizou um link para a MPHP em seu site.
ENSAIOS DE ROBERT G. INGERSOLL
OS DEUSES (1872)

"Um Deus honesto é a mais nobre realização do homem"

Tradução: Afonso M. C. Amorim

**** ****

Nenhum comentário:

Postar um comentário